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Rascunhos da Ju - Vingança Redentora (parte final)

E aí, galera, tudo bem? Para relaxar um pouco a tensão pré Enem, trago até vocês a última parte de Vingança Redentora. Quem gostou, levanta a mão! \o/ \o/ \o/
Foi um prazer escrever esse conto e, enquanto outros não vem, continuarei minha coluna abordando temas variados - cada semana um diferente.
Beijos!

Vingança Redentora (final)


Joana suspirou e olhou no fundo dos olhos do homem sentado a sua frente.

- Devo dizer que você fracassou em suas tentativas de me assustar. - começou a jovem de repente. Armando esperava ouvir qualquer coisa, menos aquilo.

- Como...

- Por favor, deixe-me terminar. - interrompeu-o decidida - Posso ver em seus olhos que não é tão ruim quanto aparenta ser; portanto, seus esforços para me amedrontar foram, definitivamente, em vão.
Não podia acreditar no que estava ouvindo. Joana era uma moça bem ousada para a idade que tinha. Ousada, corajosa e um tanto atrevida.
- Enfim - continuou, com ar de pura resolução -, sei que não devia, mas quero ajudá-lo. Sinto que fala a verdade quando se refere à sua mãe e odeio injustiças, mesmo as cometidas por meu pai. Se ele roubou sua família, não há nada mais justo do que devolver, embora eu ache um pouco difícil de isso acontecer. - ela respirou pesarosamente.
- O que quer dizer? - indagou Armando, não entendendo por que Joana ficara repentinamente triste.
- Logo você saberá... - respondeu evasivamente - De qualquer forma irei ajudá-lo, contanto que não o machuque. Afinal, ele é meu pai.
- Nunca pretendi machucar ninguém. Não é essa minha intenção. - prometeu-lhe Armando.
- Pois bem, farei o que quiser, mas para isso preciso que me conte exatamente o que aconteceu entre nossos pais no passado. - levantou-se da cadeira e pôs-se a andar pelo quarto, parecia quase animada.
Aquela menina ruiva de aparência frágil e coração forte estava mesmo disposta a ajudar Armando em seu plano de vingança contra Leopoldo, seu próprio pai. E, pela primeira vez na vida, ele se permitiu sentir um pouco de esperança.
Apesar de ainda ser bastante jovem, Joana era bem determinada e, se achasse que valeria a pena fazer uma coisa, não haveria nada que a impedisse.
- E então, vai me contar? - girou nos calcanhares para fitá-lo.
- Claro que sim. - Armando emergiu de seus devaneios - Mas vamos comer algo antes. Trouxe alguns mantimentos da cidade. Não são as coisas finas que está acostumada a comer, mas dá para matar a fome. - observou a moça arquear uma sobrancelha diante de seu comentário.
- Tudo bem, vamos comer. - respondeu apenas.
Armando levantou e encaminhou-se para a sala, seguido por Joana.
Imersa em seus pensamentos, ela tentou imaginar o que seu pai teria feito de tão grave a ponto de Armando querer se vingar. Mas, fosse o que fosse, prometeu ajudá-lo e não estava disposta a desistir.
                                          ~~~~~~~~
Uma semana se passou sem que Leopoldo tivesse notícias de sua filha.
Santiago dividiu os capangas em dois grupos, que se intercalavam numa busca incansável de Joana e seu sequestrador. Procuravam-nos de um nascer do sol a outro, sem descanso, movidos pela promessa de uma recompensa para quem levasse a cabeça do algoz da moça até o temido patrão.
Certa manhã, Santiago, o chefe dos capangas, foi a um armazém providenciar algum alimento e água fresca para seu cavalo, aproveitando para perguntar se alguém sabia algo sobre Joana.
- O senhor notou algo diferente nas redondezas desde que a menina Joana desapareceu, seu Samuel?
Samuel era o dono do armazém e o homem mais fofoqueiro de Zerdália. Sabia sobre a vida de qualquer cidadão.

Coçando sua barba, o homem calvo respondeu, pensativo:
- Pensando bem, Santiago, um rapaz veio aqui na manhã seguinte ao sumiço da senhorita. Disse que estava viajando pela estrada quando sua charrete quebrou. Estava a procura de mantimentos para ele e a esposa, até que consertasse sua charrete. O estranho é que ele estava com bastante pressa para sair daqui.
- E como era esse rapaz, Samuel? Para onde ele foi? - Santiago questionou impacientemente.
- Ah, ele era alto e forte, tinha olhos escuros e parecia muito desconfiado, como se escondesse alguma coisa... - o velho respondeu olhando ao longe. Para quem trabalhava o dia todo no principal armazém da cidade, Samuel era bem detalhista.
- Esse rapaz disse o nome? Falou para onde iria ou algo do tipo? - o capanga queria saber qualquer pequeno detalhe que, possivelmente, levasse ao paradeiro de Joana.
- Não, não disse nome nem para onde estava indo. Mas, antes de partir novamente, falou que viria buscar alimentos para a viagem.
- Então, Samuel, você vai me ver por aqui com mais frequência. Fiquei curioso por conhecer esse forasteiro misterioso.
Santiago pagou suas compras e partiu para a mansão. Tinha a sensação de que estava na pista certa e precisava avisar ao amigo, tranquilizá-lo.
                                        ~~~~~~~

Na velha cabana, a situação estava melhor do que Joana e Armando poderiam imaginar.
Contou à moça sobre a sociedade entre Hugo - seu pai - e Leopoldo, na época grandes amigos dispostos a empreender e lucrar com a pequena plantação de algodão do pai de Joana.
Hugo Lopes era financeiramente mais estável que Leopoldo e, como não desperdiçava uma boa oportunidade para faturar ainda mais, decidiu tornar-se sócio de seu amigo na pequena plantação de algodão de Leopoldo. Exportavam o produto para várias cidades vizinhas, lucrando cada vez mais.
Leopoldo Castro - sempre muito ganancioso - querendo comprar uma fazenda para poder expandir a plantação, foi ao banco e se passou por Hugo, pois sabia que o amigo tinha muito mais crédito junto aos credores. Fugiu com todo o dinheiro, deixando aquele que dizia ser seu melhor amigo com todas as dívidas, sem condições de quitá-las, já que havia investido toda a fortuna na pequena plantação.
- Meu Deus, eu sabia que meu pai era ganancioso, mas não a ponto de trair o próprio amigo que o ajudou. - sussurrou Joana, espantada com a história que acabara de ouvir.
Estavam sentados em frente à fogueira que Armando acendera perto da margem do lago. O céu estava estrelado e uma leve brisa balançava os cabelos ruivos da moça.
- Agora você entende os meus motivos, não é mesmo? - perguntou Armando, tocando o rosto macio da jovem.
- Sim, entendo. E faria o mesmo se estivesse no seu lugar. - sentiu formigar o local onde o homem a havia tocado.
Ambos não podiam negar o que estavam sentindo: desejo e paixão corriam em suas veias. Era como se se conhecessem a vida toda.
Ofegante, Joana sentiu Armando aproximar-se cada vez mais. A respiração quente e suave contra seu rosto.
Armando olhou no fundos dela, como que pedindo permissão, e pressionou seus lábios contra os de Joana. Não encontrou resistência. Ela o recebeu, deleitando-se no sabor de seus lábios. Possuindo e sendo possuída.
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Sentado no canto mais afastado do armazém, Santiago percebeu quando Samuel - proprietário do estabelecimento - fez sinal avisando sobre a chegada do misterioso homem do qual lhe falara havia alguns dias. Desde então, o capanga ficava a espreita, passando quase o dia todo no armazém.
Observou enquanto o forasteiro se aproximava do balcão e pedia alguns mantimentos e produtos para higiene.
O rapaz parecia bastante apressado. Santiago foi atrás dele assim que saiu do local.
Viu Armando montar um cavalo e seguir velozmente em direção à estrada. Subiu em seu próprio e saiu em disparada, seguindo o suposto algoz de Joana.
Seguindo à margem da estrada, sempre cuidando para não ser descoberto, Santiago estranhou ao ver o homem entrar na mata fechada. Se ele estivesse mesmo com a charrete quebrada como contara Samuel, certamente o veiculo estaria em algum lugar da longa estrada, com sua esposa aguardando. Então, provavelmente, seu instinto estaria certo: a filha de Leopoldo se encontrava nas garras daquele homem.
Seguiu-o por vários minutos bosque a dentro, até que chegaram a uma clareira onde havia uma pequena cabana. Santiago escondeu-se atrás de uma árvore com tronco largo e observou. A porta da cabana foi aberta e ele viu a menina Joana sair. Estava prestes a se revelar para resgatá-la, quando a cena que se formou diante de seus olhos o fez estacar: Joana beijava aquele homem e, pelo que parecia, ela estava feliz.
Não podia crer... Como explicaria tal situação ao amigo? Leopoldo contara-lhe sobre o que ocorrera no passado e o motivo da vingança. Sabia que o patrão desejava ver Armando morto por ter sido capaz de cometer tamanha ousadia. Mas, agora que a própria filha estava ao lado do inimigo, a situação tomava outro rumo.
Decidiu, então, voltar para a fazenda e descobrir a que conclusão Leopoldo chegaria.
                                        ~~~~~~~
Que loucura acabara de cometer? Beijar a filha de seu maior inimigo com certeza não era a coisa mais sensata a se fazer no momento. Ou era. Não conseguia raciocinar sentindo aquela pele macia sob sua palma, a suavidade dos lábios dela contra os seus. Nunca havia sentido emoção tão forte, era como se estivesse renascendo - não havia mais ódio, rancor ou amargura. Esquecera-se completamente a razão pela qual estava naquela cidade. A única coisa que sabia era que queria sentir aquilo para sempre e, de alguma forma, sabia que Joana sentia-se da mesma forma. Foi então que, subitamente, tomou uma decisão.
- Vem comigo. Vamos para a minha cidade. Não quero mais saber de vingança alguma. O que mais quero agora e para o resto de minha vida é você. - sussurrou urgentemente contra os lábios da moça, beijando-a em seguida. - Viveremos com minha mãe e cuidaremos dela. Por favor, vem comigo, Joana. - completou.
Por mais que amasse seu pai, Joana sabia que, se permanecesse com ele, nunca poderia ficar com Armando. Tinha certeza de que o que sentiam um pelo outro era muito maior que desejo. Era amor.
- Sim. - ela respondeu em meio a um sorriso.
- Você acaba de me fazer o homem mais feliz desse mundo! - Armando a abraçou forte. - Partiremos amanhã de manhã, não podemos perder tempo.
Joana olhou no fundo daqueles olhos tão negros quanto a noite e encontrou toda a certeza que precisava. Era nos braços de Armando onde estava seu verdadeiro lar.
- Eu amo você. - sussurrou a moça.
- Também te amo. Para sempre.
A noite passou rápida. Assim que nasceu o primeiro raio de sol, Armando partiu para a cidade, onde providenciaria mantimentos para a viagem. Estava ansioso para ir embora dali. Ouvira comentários de que Leopoldo colocara todos os seus capangas na busca por Joana; então não podia arriscar que suspeitassem dele.
Retornou à cabana uma hora depois e encontrou a moça a sua espera, pronta para a viagem.
- Pronta? - perguntou.
- Sempre. - Joana respondeu, beijando-o timidamente.
Era o começo de suas novas vidas. O passado havia ficado para trás. 

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